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O NOUD é um coletivo dedicado ao monitoramento e investigação de agrupamentos pertencentes ao submundo digital, com foco em comunidades derivadas das plataformas conhecidas como “chans”. Essas comunidades, frequentemente citadas pela influência ampla que possuem na cultura da internet, cultivam formas de sociabilidade violenta ainda pouco compreendidas pela esfera pública e com impactos negativos na juventude e na segurança pública já reconhecidos pela mídia, que vão desde o cibercrime organizado, que muitas vezes culminam em terrorismo estocástico, até o extremismo político. Utilizando meios interdisciplinares, o projeto examina como violência, humor e performances nessas interações digitais estão impactando as novas gerações.
“Laranja Mecânica”, de Anthony Burgess (e também Stanley Kubrick), retrata a delinquência juvenil em uma sociedade futurista. A obra aborda a violência como catarse, mostrando como a brutalidade dos atos é motivada por prazer e alívio, não apenas por ódio. Pelos personagens juvenis, esse prazer é batizado como ultraviolência. A distopia visionária de Burgess ainda é relevante, especialmente considerando as interações sociais intensificadas pela juventude do submundo da internet. O filme “Laranja Mecânica” se tornou um símbolo para alguns delinquentes jovens, e a realidade atual pode ser tão bizarra quanto a ficção.
O lulz é ultraviolência em essência.
No ambiente digital, a comunicação evoluiu para favorecer linguagens absurdistas como a pós-ironia. Essa forma de comunicação permitiu que ideologias ultraviolentas, como a “alt-right” crescessem, em fóruns anônimos da internet, como os chans, muito frequentado por indivíduos com tendências sociofóbicas. Essa ideologia se espalhou (principalmente através de memes) para a juventude digital sem ser detectada, levando a resultados comunicativos, inclusive políticos, jamais previstos. “Troll”, “Based”, “Incel”, “Redpill”, “Sigma”, “Chad”, “Wojak” e tantas outras expressões que podem ser ouvidas sendo ditas por jovens digitais são apenas a ponta do iceberg do legado dos chans.
O lulz é ultraviolência em essência.
O lulz é um termo originado nos chans e fóruns anônimos da internet, derivado de “LOL” (Laugh Out Loud), mas com um significado muito mais sombrio. O lulz se refere à “alegria pelo sofrimento alheio”, um conceito que permeia a cultura de trollagem e violência digital. Enquanto o “LOL” expressa humor comum, o lulz vai além: é um tipo de humor pós-irônico que celebra a tragédia e a violência, muitas vezes com intenções destrutivas.
No contexto da política e da violência digital, o lulz serve como combustível para ações ultraviolentas, muitas vezes promovidas em fóruns extremistas. Através de memes e provocações, esses grupos criam um ambiente onde o sofrimento humano é trivializado, e atos violentos são glorificados. O lulz transforma o caos em entretenimento, criando um ciclo de violência que se espalha por várias plataformas digitais, afetando diretamente a sociedade.
O extremismo digital, impulsionado pela cultura do lulz, tem causado profundos impactos sociais e políticos. Jovens influenciados por esse humor distorcido encontram refúgio em subculturas online, onde a violência é normalizada. O resultado é uma geração que vê na violência digital uma forma de expressão e poder, muitas vezes levando a atos reais de ultraviolência.
Um exemplo trágico desse impacto são os massacres em escolas, frequentemente associados a grupos extremistas que celebram essas ações como “lulz”. Além disso, a cultura do lulz tem servido de porta de entrada para a alt-right e outros movimentos políticos extremistas que exploram o humor e a ironia como forma de radicalizar jovens vulneráveis. A desumanização e a banalização do sofrimento são consequências diretas desse fenômeno, que já coleciona resultados devastadores tanto na esfera pública quanto privada.
Aqui estão alguns trechos de declarações de jovens envolvidos com o fenômeno do lulz, revelando suas motivações e a distorção do conceito de liberdade e poder no ambiente digital
